O Sacerdócio dos Crentes, os Ofícios de Governança, e os Dons do Espírito

O conceito de “sacerdócio dos crentes” é central na teologia cristã protestante, e está fortemente ligado ao entendimento de que todos os crentes, em sua união com Cristo, são chamados a servir como sacerdotes espirituais. Esse ensino se baseia em textos que afirmam a igualdade de todos os crentes diante de Deus, especialmente no que diz respeito ao acesso direto a Ele, sem a necessidade de intermediários humanos, e a responsabilidade de exercer ministérios específicos na igreja local e no mundo.

  1. O Sacerdócio de Todos os Crentes

Textos base: 1 Pedro 2:5-9, Hebreus 3:1, Efésios 1:22

O conceito de que todos os crentes são sacerdotes se origina em 1 Pedro 2:5-9, onde os cristãos são chamados de “sacerdócio santo” e “sacerdócio real”. Este texto descreve os crentes como pedras vivas, construindo uma casa espiritual, oferecendo “sacrifícios espirituais” que são aceitáveis a Deus por meio de Jesus Cristo. O “sacerdócio espiritual” envolve:

•   Sacrifícios espirituais: Nossos atos de adoração, serviço, intercessão e boas obras são os sacrifícios que oferecemos a Deus. Ao invés de sacrifícios físicos como no Antigo Testamento, os crentes oferecem orações, contribuição financeira, Ceia do Senhor, louvores e atos de bondade, conforme descrito em Hebreus 13:15-16. Esses sacrifícios são aceitáveis a Deus, não por nossa própria justiça, mas por meio de Jesus, nosso Sumo Sacerdote (Hb 3:1).
•   Acesso direto a Deus: Uma das marcas do sacerdócio dos crentes é o acesso direto à presença de Deus. Diferente do sacerdócio levítico, onde havia uma hierarquia e barreiras ao acesso a Deus, todos os crentes podem se aproximar diretamente dEle, sem necessidade de intermediários humanos (Hebreus 10:19-22).
•   O Sacerdócio de Cristo: Jesus é descrito como o “Sumo Sacerdote” (Hebreus 3:1), o que significa que Ele é o mediador perfeito entre Deus e a humanidade. Assim, o sacerdócio de todos os crentes não diminui o papel exclusivo de Cristo como Mediador. Pelo contrário, nós só podemos ser sacerdotes porque estamos em Cristo, o Sacerdote Supremo, que nos dá acesso à presença de Deus.
  1. Os Ofícios na Igreja: Pastor (ministro da Palavra), Presbítero, Diácono e Evangelista

Textos base: 1 Coríntios 12:28, Efésios 4:11, 1 Timóteo 3:1-13

Embora todos os crentes compartilhem do sacerdócio espiritual, Deus também estabelece ofícios específicos dentro da igreja para a sua edificação e governança. Em Efésios 4:11, Paulo menciona que Cristo deu à igreja apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres. Esses dons ministeriais são ferramentas para a maturidade espiritual e a missão da igreja. Cada ofício tem um papel distinto:

•   Pastores (ministros da Palavra): Responsáveis por apascentar o rebanho de Cristo, ou seja, guiar, cuidar e alimentar espiritualmente a congregação (Efésios 4:11; 1 Pedro 5:1-3). A palavra “pastor” implica liderança e cuidado espiritual, com base no exemplo do Bom Pastor, Jesus Cristo (João 10).
•   Presbíteros: Também conhecidos como anciãos, os presbíteros têm a responsabilidade de governar a igreja e cuidar de sua saúde espiritual (1 Timóteo 3:1-7; Tito 1:5-9). A função deles inclui liderar, ensinar e zelar pela doutrina correta dentro da comunidade cristã, servem na igreja local de maneira plural, auxiliando aos pastores no que diz respeito a regência da igreja local.
•   Diáconos: Os diáconos são designados para servir nas necessidades práticas da igreja, como cuidar dos pobres e administrar a logística de serviços (1 Timóteo 3:8-13). Embora não estejam focados na pregação e ensino, eles desempenham um papel vital no bom funcionamento da igreja.
•   Evangelistas: Os evangelistas são chamados a anunciar o Evangelho, tanto dentro quanto fora da comunidade cristã, levando a mensagem de salvação a todos os povos. Eles são especialmente dotados para o trabalho missionário e a expansão do Reino de Deus, são plantadores de igrejas e espalhadores do bom fermento de Deus no mundo. (Efésios 4:11).

2 Timóteo 4:5
“Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre o teu ministério.”

  1. Dons Espirituais e o Chamado de Deus

Textos base: 1 Coríntios 12:28, Filipenses 2:29

Deus, em Sua soberania, distribui dons espirituais para os crentes conforme Ele deseja (1 Coríntios 12:28). Esses dons capacitam cada um a cumprir seu papel no Corpo de Cristo. Os dons são variados, e cada crente recebe o que é necessário para edificar a igreja. Alguns dons são dados para funções de liderança e ensino, enquanto outros se manifestam em dons de serviço, socorro, hospitalidade e muitos outros. O importante é que todos os crentes têm um papel a desempenhar e são chamados a exercer seus dons em submissão a Cristo, que é o cabeça da Igreja (Efésios 1:22).

•   Escolha soberana de Deus: A escolha para esses cargos e ministérios não é baseada apenas em mérito humano, mas na vontade soberana de Deus (Filipenses 2:29). Ele chama e capacita aqueles que Ele deseja para cumprir esses ofícios.
•   Reconhecimento pela igreja: A igreja tem a responsabilidade de reconhecer e confirmar os dons e o chamado de seus líderes. Isso é feito por meio da oração, observação dos frutos do Espírito na vida dos candidatos e a sua submissão à Palavra de Deus.

Conclusão: A Missão Compartilhada dos Crentes

O sacerdócio dos crentes e os ofícios da igreja não são excludentes, mas complementares. Todo crente tem um chamado espiritual para oferecer sacrifícios a Deus e servir como parte do Corpo de Cristo, mas alguns são chamados para liderar, pregar, ensinar e administrar a igreja. O foco final está na edificação do Corpo e na glória de Deus. Assim, o sacerdócio universal e os dons ministeriais trabalham juntos para a missão da igreja de pregar o Evangelho e ser luz no mundo.

Este artigo nos chama a refletir sobre nosso papel como sacerdotes espirituais e como podemos usar os dons que Deus nos deu para a Sua glória e o crescimento do Seu Reino.

Pr Bruno Moraes

Pr Bruno Moraes

Pastor da Igreja Cristã em Recife